Câmara de Vereadores de São Leopoldo
Câmara de Vereadores de São Leopoldo
Estado do Rio Grande do Sul

EXPEDIENTE N.° 4470 Projeto de Lei N.º 736/2019

Proponente: Ver. Dudu Moraes

PROJETO DE LEI:

Denomina de “Praça Padre Orestes” a praça situada entre as ruas Mogno e Seis no Loteamento Tancredo Neves no município de São Leopoldo.

Art.1º  A praça situada entre as Mogno e Seis, no Loteamento Tancredo Neves, passa a ter a seguinte denominação: Praça Padre Orestes.

Art. 2º Ficam revogadas as disposições em contrário.

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação.

EDUARDO MORAES
Vereador – PT

São Leopoldo, 02 de agosto de 2019.

JUSTIFICATIVA DO PROJETO DE LEI:

Um homem da Igreja comprometido com a vida do povo: João Orestes Stragliotto nasceu no dia 10 de dezembro de 1928, membro de uma grande família de descendentes de italianos, do Distrito de Galópolis, de Caxias do Sul. Seus pais eram José Stragliotto e Ignes Baschera. Tiveram 12 filhos. Seu pai era cultivador de vinha e oleiro. Também foi pedreiro, tendo sido o construtor da Igreja de Galópolis. Sua mãe foi uma das personalidades mais influentes em sua trajetória de vida. Em 1947, Orestes Stragliotto faz os primeiros votos na Congregação dos Josefinos de Murialdo. Iniciou os estudos teológicos em Roma, em 1954.

No dia 17 de maio de 1956 - na Itália, Orestes recebe as Ordens Sacras menores – que significam um começo de caminhada para o sacerdócio. Foi uma cerimônia que ordenou sete sacerdotes. Depois de concluir a Faculdade de Teologia, em 22 de março de 1958, na cidade de Viterbo, na Itália, Orestes é ordenado sacerdote. Retornando ao Brasil no mesmo ano, como sacerdote, foi trabalhar na obra social da Congregação dos Josefinos de Murialdo, no bairro Partenon, em Porto Alegre, atuando também na paróquia São José do Murialdo, no período em que nascia a famosa procissão do Morro  da Cruz, nas sextas-feiras santas. Neste período, o jornalista Caco Barcelos, da Rede Globo, frequentou esta instituição, sendo seu aluno.

Pe. Orestes Stragliotto vive o contexto do Concílio Vaticano II (1962-1965), desde seu anúncio pelo Papa João XXIII, a 25 de janeiro de 1959. O Concílio Vaticano II é a Assembléia Máxima da Igreja Católica do mundo. Esta é, também, a porta de entrada para uma maior abertura da Igreja junto ao mundo contemporâneo. Stragliotto sofre muito com as mudanças do Concílio e, inclusive, conforme suas anotações, entra em crise de fé, mas, com o tempo, vai compreendendo o sopro renovador que Deus inspirou na Igreja.

No inicio da década de 1960 o Padre Orestes é Assessor da Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil no Rio Grande do Sul (Sul 3). Foi o segundo secretário da CNBB, no Rio Grande do Sul, sob a Presidência do Cardeal Vicente Scherer. Fortemente influenciado pelos ideais de Dom Helder Câmara, assimila o espírito reformador e de abertura do Concílio e se, aproxima, também, da Teologia da Libertação. Trabalhou intensamente com o Irmão Antônio Cechin, colaborando com o surgimento da Romaria da Terra, das Comunidades Eclesiais de Base e do próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Em 1968, Pe. Orestes percebe a grande mudança em sua vida pastoral. Isto ocorre durante a 2ª Conferência Geral dos Bispos da América Latina e Caribe, em Medellin, na Colômbia. Nesta Conferência a Igreja da América Latina assume a opção pelos pobres, reforçada mais decididamente em Puebla, em 1979. Ele próprio deixa registrado em seu Memorandum esta passagem:

Em 1967, fazendo o curso de catequese e Liturgia nos ISPAC e ISPAL do Rio, acho que completei a “VIRADA” que o Vaticano ll precisava provocar na Igreja! Depois do congresso de Catequese de Medellin e a Assembléia dos Bispos de Medellin, com Dom Helder e Dom Larain, penetrei as mudanças pastorais na BASE que o Concílio propunha! Foi nessa época que iniciei os cursos de PASTORAL de Caxias (C.F.P) em 1968, os cursos missionários do COM, 1970, e os cursos de Catequese e Pastoral Latino-Americano do CECA, 1974/1982. Eles me deram uma ESTRUTURA TEOLÓGICA E PEDAGÓGICA que é a que embasa meu trabalho, hoje! Lidando com sociólogos, antropólogos, teólogos (Pe. Juan Luis Segundo), Biblistas (Carlos Mesters), Espiritualistas (Frei Betto, Frei Mateus Rocha), Pedagogos (Antônio Cechin, Paulo Freire) e com Bispos do RS, do Brasil e América Latina (Dom Avelar, Dom Tomás Balduíno, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Waldir Calheiros, Dom Luiz Fernandes, Dom Paulo Evaristo, Dom Aloísio Lorscheider e Dom Samuel Ruiz), amigos de todo tipo (Pe. Arturo Paoli, Pe.Xavier Gorostiaga, Pe. Simian Jofre, Pe. José Marins, Pe. Alberto Maggi, Pe, E. Balducci, etc.) eu fui amadurecendo uma consciência profunda da Igreja, da própria Bíblia e do mistério de Cristo! É claro que tudo foi sendo questionado e re-questionado!! Ajudando os outros, eu aprendi! Estudando, fui crescendo e tentando uma nova experiência de Igreja aqui no Rio dos Sinos como queria Dom Sinésio, partindo do NADA... TENTEI CAMINHOS NOVOS, na perspectivas do Concílio. (STRAGLIOTTO, 2002, p.1)

No dia 21 de agosto de 1982, Pe. Orestes Stragliotto assumiu o cargo de pároco da Paróquia Santo Inácio, do Rio dos Sinos, nomeado por Dom Sinésio Bohn, primeiro bispo da Diocese de Novo Hamburgo. Cinco dias após a sua posse, sofre a primeira enchente do Rio dos Sinos. Esta situação se estendeu durante mais de cinco anos. É daí que surge, por parte do Padre Orestes, a necessidade de mobilizar o povo no movimento pró-dique.

Desde a sua chegada na paróquia Santo Inácio, Stragliotto começa a provocar o surgimento de novas comunidades da paróquia, chegando a 22 comunidades, denominadas de Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s). Sobre estas denominações falaremos mais adiante: inúmeras pastorais, diversos trabalhos sociais, como os grupos de mulheres, os clubes de mães, as cooperativas de trabalho, as creches nas comunidades e o surgimento de instituições como a Associação dos Meninos e Meninas do Progresso (AMMEP), o Centro Cooperativo de Assistência ao Menor (CECAM), o Movimento de Meninos e Meninas de Rua, o Projeto Guadalupe, entre outros, que contaram com o apoio de Stragliotto, tanto na implementação como na captação de recursos.

Aos 73 anos de idade, Stragliotto falece no dia 5 de junho de 2002, de um câncer generalizado. As anotações deixadas por ele, no que tange à análise da realidade na qual estava inserido, é uma evidência da metodologia proposta pela TL e pelas CEBs que parte da realidade e do sofrimento que oprime o pobre. Seus escritos são referências no campo da formação de agentes de pastoral popular, uma vez que as metodologias de trabalho de CEBs e da TL possuem a leitura popular da Bíblia, gerando uma reflexão analítica do contexto da vida, remetendo a uma prática, isto é, à ação dos atores sociais inseridos nestes movimentos.

A proposta do nome para a praça foi uma solicitação feita pela comunidade da Tancredo Neves a este vereador. Compreendo ser uma justa homenagem a um homem tão importante na luta pelos mais necessitados do nosso município.

EDUARDO MORAES
Vereador – PT

São Leopoldo, 02 de agosto de 2019.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, José Silon. O Padre Orestes Stagliotto e a formação do Movimento Social Pró-Dique em São Leopoldo. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá – MG. Disponível em: < http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/anais4/st8/3.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2019.

Documento publicado digitalmente por GERSON POLEZER em 02/08/2019 às 14:03:04.
Chave MD5 para verificação de integridade desta publicação 1274e6a3e6ecc6717ac4158916db8e52.
A autenticidade deste poderá ser verificada em http://legis.camarasaoleopoldo.rs.gov.br/autenticidade, mediante código 49231.

HASH SHA256: 8d20b1249e810891fd44ae457b8868802e7dc66124695e1d27113d0e905e5b18



Documento Assinado Digitalmente no padrão ICP-Brasil por:
VILSON EDUARDO FISCHER DE MORAES:02201311048 às 02/08/2019 14:03:37